Ainda está escuro quando as primeiras crianças deixam suas casas, com mochilas que parecem mais pesadas que seus próprios corpos. A rotina é sempre a mesma: passos apressados, olhos quase fechados, mãos enfiadas nos bolsos para se proteger do frio da manhã. Elas vão para a escola, o lugar onde, dizem, tudo começa. Mas será mesmo? Os corredores da escola têm vida própria. O eco dos passos e o barulho do sino anunciam o ritmo de um dia perfeitamente cronometrado. Nas salas de aula, as carteiras enfileiradas e os quadros cheios de fórmulas sugerem ordem.
Mas, além da matemática e da gramática, há algo invisível que se move entre essas paredes. Michel Foucault, sempre tão atento às engrenagens do poder, nos dizia: a escola não é apenas um lugar para aprender. É um espaço de disciplina, onde os corpos e mentes são moldados para se encaixar. Entre o "não corra no corredor" e o "faça silêncio", não se formam apenas alunos. Formam-se cidadãos obedientes. Obedientes para quê? No recreio, as crianças correm, gritam, experimentam um breve sopro de liberdade. Mas até esse momento tem limite. O sino toca e, em segundos, elas voltam para as filas, para as carteiras, para o lugar onde aprendem que cada coisa tem seu tempo e lugar. É como se a escola fosse uma fábrica em miniatura, ajustando engrenagens humanas para se encaixarem na máquina social. Mas nem todos se encaixam. Sempre há aqueles que falam demais, que não conseguem ficar quietos, que sonham quando deveriam copiar. Para esses, a escola tem um arsenal de correções: uma advertência, uma nota baixa, um rótulo. “Indisciplinado”, “difícil”, “desatento”. São palavras que pesam mais do que as mochilas e que ensinam, desde cedo, que questionar é um erro.
E quem decide o que é certo ou errado? Quem criou essas regras que parecem eternas? As normas da escola, com seus toques de sino e filas impecáveis, não são tão diferentes das regras do mundo lá fora. Ambas existem para manter a ordem. Mas, ao organizar, será que não estamos sufocando o caos criativo? Ao preparar para o futuro, será que não estamos roubando o presente? Na sala de aula, enquanto todos copiam, uma criança levanta a mão. "Por que a gente tem que fazer fila para entrar?" – pergunta, tímida. A resposta vem rápida: "Para manter a ordem". E ali, naquele instante, algo se quebra. A pergunta, tão simples, carrega uma potência enorme. Porque questionar – mesmo uma regra pequena – é o início de algo maior. É o começo de resistir à teia invisível que tenta moldar cada pensamento, cada comportamento, cada sonho. A escola continuará funcionando, com seus sinos e carteiras alinhadas. Mas talvez, para algumas crianças, o simples ato de perguntar – "E se fosse diferente?" – seja o suficiente para acender uma faísca. E quem sabe essa faísca não seja, no fim das contas, o que mais precisamos?
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