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O marido da Eunice

12/02/2025 20h38 Atualizada há 1 mês
Por: Alfredo Couto Rosa Lopes
Busto de Rubens Paiva na Câmara dos Deputados
Busto de Rubens Paiva na Câmara dos Deputados

 

Quando tomou posse como deputado federal, em fevereiro de 1963, Rubens Paiva integrava um grupo promissor de parlamentares, com ideais e propostas voltados para a reestruturação do Brasil. Era o início da primeira legislatura a ser cumprida inteiramente na nova capital. Brasília ainda contava com mais espaços vazios e terra revirada do que com edificações monumentais.

                A empolgação daqueles congressistas foi contida pouco mais de um ano depois do início dos seus mandatos. O golpe militar de 1964 interrompeu o ciclo de eleições democráticas que vigorava desde 1945, ceifou sonhos e liberdades e abriu cicatrizes que não se apagarão da nossa história.

                Antes de se eleger deputado, Paiva atuou politicamente no movimento estudantil, na militância socialista e na direção de um jornal político. Ao assumir o seu primeiro e único mandato eletivo, já acumulava experiência e respeito junto a movimentos sociais. Conciliou, com sucesso, sua carreira profissional com as causas e bandeiras que defendia. Era engenheiro civil e progrediu no ramo empresarial executando obras de relevo em diversas cidades e estados.

                Depois de um período filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), Rubens Paiva trocou de legenda e concorreu à vaga de deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), tendo como base eleitoral os municípios da Baixada Santista.

                Os passos percorridos por Rubens Paiva no exercício do mandato estão narrados com detalhes num livro que o jornalista e escritor Jason Tércio, biógrafo de Rubens Paiva, escreveu sob encomenda da Câmara dos Deputados. O autor complementou sua pesquisa e seu relato sobre a vida e o desaparecimento do ex-deputado com um ótimo volume dedicado a destacar a sua atuação parlamentar. Breve, mas contundente e inspirada, a presença de Rubens Paiva no parlamento foi marcada pela atuação na CPI que investigou o maior escândalo de corrupção eleitoral até então. O deputado também ganhou visibilidade por sua participação ativa na Frente Parlamentar Nacionalista e na Frente de Mobilização Popular. Não foi um parlamentar de grandes discursos em plenário. Preferia o trabalho nos bastidores e nas instâncias onde sua capacidade de articulação tinha mais peso.

                Entre os registros documentados na Câmara dos Deputados e reunidos no livro que revela a intensa atividade de Rubens Paiva em Brasília, é possível reconhecer os traços de um homem sagaz, que compreendia os meandros da política e que estava atento aos sinais de que a mesa onde se travava o jogo democrático pelo poder estava prestes a ser virada.

                O livro da série Perfis Parlamentares, editado em 2013, está disponível gratuitamente na internet (https://bd.camara.leg.br/bd/items/eab77593-5522-4a2f-8849-d05d0b585922). A publicação traz detalhes interessantes da curta, porém profícua, trajetória parlamentar do marido de Eunice Paiva – personagem que Fernanda Torres interpreta no filme Ainda Estou Aqui, que concorre em três categorias do Oscar este ano. A obra também inclui informações vastas sobre os caminhos percorridos por Rubens Paiva até o seu fatídico desaparecimento. Vale a leitura.

 

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                Tradicionalmente, monumentos como estátuas e bustos cumprem a função de evitar o apagamento histórico de personalidades e fatos marcantes para uma comunidade ou uma nação. Na inauguração do busto em homenagem a Rubens Paiva, em 2014, o então deputado Jair Bolsonaro lançou uma cusparada na direção da escultura, por considerar aviltante o reconhecimento de que o regime ditatorial fosse responsável pela morte do ex-parlamentar.  Depois disso, por muito tempo, o busto de Rubens Paiva em um dos edifícios da Câmara dos Deputados permaneceu despercebido. O sucesso de Ainda Estou Aqui fez com que alguns passantes notassem aquele nome gravado no mármore branco. Agora, tem sido comum ver visitantes tirando fotos ao lado do busto para fazer postagens em redes sociais.

 

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                Estudo elaborado pela Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados alerta que o governo federal pode ficar sem recursos para despesas discricionárias a partir de 2027. As despesas discricionárias são usadas para custeio e investimentos, como políticas sociais e obras de infraestrutura. A solução para o problema tem de vir do próprio governo, na elaboração do projeto de lei de diretrizes orçamentárias para 2026, a ser apresentado em abril. Nele deve ser traçada uma nova curva estratégica para reequilibrar as metas fiscais e dar sustentabilidade à dívida pública no médio e no longo prazo. Um dos caminhos para sair do buraco, conforme apontado no estudo, seria a desindexação e a desvinculação de despesas. Entram no horizonte discussões para desatrelar o salário-mínimo de benefícios como BPC, seguro-desemprego e abono salarial.

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Alfredo Couto Rosa Lopes – patrocinense, jornalista, servidor público. Foi repórter e editor da Voz do Brasil, da Rádio Nacional e da Rádio Câmara em Brasília. Consultor legislativo da Câmara dos Deputados desde 2007.
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