Dias atrás, escrevi um texto referenciando Michel Foucault e a necessidade de a escola manter regras no cotidiano. Agora, quero expandir essa reflexão para as relações éticas no ambiente escolar. Como esses temas se conectam? Para aprofundar essa discussão, vou descrever uma história que nos ajude a refletir melhor sobre esses aspectos. O professor entra na sala de aula carregando mais do que livros e provas. Traz consigo um compromisso invisível, mas fundamental: o de formar seres humanos. Seu papel vai muito além de transmitir conteúdo. Educar é mais do que ensinar regras gramaticais ou datas históricas; é um ato de escuta, de empatia, de transformação. No fundo da sala, um aluno desenha. Traços leves, cuidadosos. A aula prossegue, mas ele parece imerso em outro mundo. O professor percebe, mas hesita.
A antiga pedagogia mandaria repreender, impor disciplina, corrigir a distração. Mas, e se o aprendizado não fosse apenas sobre controle? Michel Foucault já falava sobre os mecanismos disciplinares, sobre a escola como espaço de vigilância. Mas educar, reflete o professor, não pode ser apenas vigiar; precisa ser acolher. A ética do educador está nas pequenas escolhas diárias. Ela não se limita a seguir normas; é um pacto silencioso com cada estudante. Ensinamos pelo exemplo, pela forma como olhamos, como ouvimos, como respeitamos. Regras são necessárias, sim, mas são apenas um alicerce.
A construção do aprendizado é feita de relações humanas, de oportunidades de crescimento, de momentos em que permitimos que os alunos voem um pouco antes de puxá-los de volta ao solo. O professor se aproxima do garoto. Em vez de censurá-lo, pergunta: — O que você está desenhando? O menino levanta os olhos, hesita, depois mostra a folha. Um pássaro. Um voo congelado no grafite. O professor sorri. Fala sobre liberdade, sobre sonhos, sobre como o conhecimento também é uma forma de voar. O aluno, antes distante, agora o observa com atenção. O aprendizado aconteceu ali, naquele instante, fora do roteiro planejado, mas dentro do que realmente importa. A ética na educação é isso: encontrar um equilíbrio entre regras e humanidade, entre disciplina e afeto. E entender que cada aluno carrega dentro de si um pássaro prestes a alçar voo, a se libertar. Cabe ao professor saber quando ensinar a voar e quando simplesmente admirar o bater de asas.
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