Patrocínio Paulista Coluna

Quaresma? Tem muita coisa para contar

11/04/2025 21h19 Atualizada há 4 semanas
Por: Nainôra Freitas
Quaresma? Tem muita coisa para contar

Alguém se recorda das histórias de superstições que estavam relacionadas à quaresma? A quaresma é um tempo litúrgico da Igreja Católica, que ocorre depois do carnaval. A palavra vem do latim quadragésima dies o que quer dizer  - quadragéssimo dia.  Um tempo de reflexão, conversão, jejum e caridade para os cristãos. 

Em Patrocínio Paulista, igual em outras localidades, a quaresma era um tempo cheio de crendices, lendas e superstições, como as aparições de lobisomem, de mula sem cabeça, de almas penadas que circulavam à noite, principalmente próximas do cemitério e encruzilhadas. As pessoas tinham medo de situações que ocorriam mais no imaginário do que concretamente no cotidiano. Algumas destas superstições ainda ocorrem até os dias atuais. Por exemplo, são poucos os casamentos nas igrejas durante este período, pois as pessoas acreditavam que dava azar. 
O ponto alto da quaresma tem início com o domingo de Ramos, em que os fieis levam seus ramos para a procissão que recorda a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, começando a semana santa. 

Durante a semana santa ocorre a procissão do encontro doloroso, normalmente saindo de locais diferentes, os homens carregavam a imagem de Cristo com a cruz e as mulheres a imagem de Nossa Senhora das Dores. A representação é de Jesus se dirigindo para o calvário e encontra com sua mãe, representada por Nossa Senhora das Dores. As imagens de Cristo e Nossa Senhora se encontram na porta da matriz.

 Na quinta feira santa, acontece a cerimônia do lava pés. Antigamente somente os homens participavam representando os discípulos, nos dias atuais, não existem mais esta distinção.

A semana santa era cheia de rituais, principalmente na sexta-feira santa o que incluía não varrer a casa, para não varrer o Cristo morto, não brigar, não dizer palavrão, não dar gargalhadas. Sexta-feira santa, dia de jejum, o que podia comer? Carne vermelha, nem pensar. Os mais abastados, comiam bacalhau. Os menos abastados comiam sardinhas ou algum outro peixe ou a comida que encontrava, mas sem carne. 

Muitas pessoas, apesar de não praticarem o catolicismo, ainda conservam o costume de não comer carne vermelha na sexta-feira santa. Outras já deixaram para trás estes antigos costumes e fazem festas, churrascos, reúnem amigos. Desfrutam do “feriado”. 

A Paixão é celebrada na sexta-feira santa, às três horas da tarde, na matriz lotada. Muitas pessoas vinham da zona rural para a celebração das 15hs e ficavam para a procissão. Ao anoitecer, após o sermão das sete palavras, que eram repetidas as frases ditas por Jesus como “Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 24), ocorre o rito do descendimento da cruz e a procissão  do enterro, com o esquife do Senhor morto, o que representa um dos pontos altos da liturgia. A multidão acompanha carregando velas acesas. 

Sexta feira-santa era um dia de recolhimento, de ouvir o lamento do canto da Verônica durante a procissão do enterro. Ela canta um responsório “O vos omnes”. Conta a tradição que ela era um moça que limpou o rosto de Jesus com o véu enquanto ele carregava a cruz. Quando a Verônica se apresenta nas procissões, ela descerra um véu com a imagem da face de Jesus Cristo.  Durante várias décadas, em Patrocínio Paulista, a figura da Verônica na sexta-feira santa foi representada por d. Iná Berteli. 

No sábado santo aparecia também pelas ruas os bonecos de Judas, da malhação de Judas, um ridículo boneco de pano que as pessoas açoitavam. Este boneco era amarrado em postes, queimado, num gesto de matar Judas Iscariotis, o traidor de Jesus. A estátua do Cônego Peregrino ao lado da Mariz, durante muito tempo foi o local em que o “Judas” era colocado a espera dos insultos e outras brincadeiras da população. Esta prática foi deixada para trás e não encontramos mais o “Judas” em Patrocínio Paulista faz várias décadas.  

As festividades se encerram com a celebração da ressurreição com a benção da água e do fogo. A comunidade reúne na igreja com as luzes apagadas, as pessoas com as velas acessas cantando o Pregão Pascal que o esplendor de Deus destruiu as trevas e na noite gloriosa exultam de alegria com os anjos. A última procissão, realizada até poucos anos atrás, era a da ressurreição de Cristo após a vigília pascal. Um novo tempo litúrgico deixava para trás as proibições, jejuns, medos e superstições com as almas penadas e chegava o tempo comum a espera de outras celebrações.  

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Tiago Há 4 semanas Patrocínio Paulista Muito bom
TaisHá 4 semanas Patrocínio Paulista Nai, vc como sempre, arrasa!
João MadeiraHá 4 semanas LeuvenBelo texto! Bem escrito e informativo!
Carlo Monti Há 4 semanas Marabá - PAGrande Nainora, com seu texto lúcido e criativo. Uma memória fundamental para quem somos e o que somos.
Sebastião Neto Há 4 semanas Patrocínio Paulista Muito bom Nainora, texto recheado de lembranças.
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Nainôra Maria Barbosa de Freitas
Sobre Nainôra Maria Barbosa de Freitas
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