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Empatia na Lousa: Uma Lição que o Brasil Precisa Aprender

27/04/2025 09h04
Por: Ana Martins
Empatia na Lousa: Uma Lição que o Brasil Precisa Aprender

Em um mundo cada vez mais acelerado, polarizado e digitalizado, a empatia parece ter sido deixada para trás, como uma relíquia emocional do passado. Mas eis que, entre uma navegação distraída pela internet e outra, me deparei com uma notícia vinda da Dinamarca que acendeu uma fagulha de esperança: por lá, empatia é disciplina obrigatória nas escolas. Sim, isso mesmo. Uma matéria chamada Klassen Tid — ou “Hora da Classe” — é parte integrante do currículo de crianças e adolescentes entre 6 e 16 anos. Penso que essa é uma lição que o Brasil deveria observar com atenção.

Durante a “Hora da Classe”, os alunos não aprendem fórmulas, não fazem provas, nem precisam entregar trabalhos. O objetivo é outro, e talvez mais importante: desenvolver inteligência emocional, escuta ativa, diálogo e convivência respeitosa. Nesse espaço, sentimentos são validados, conflitos são discutidos com empatia, e o professor assume o papel de facilitador — alguém que guia, escuta e acolhe. Trata-se de um investimento no ser humano antes de qualquer outra coisa.

Agora, pense por um instante: e se isso acontecesse aqui? Imagine nossas escolas brasileiras reservando um tempo semanal para que crianças e jovens falem de seus medos, alegrias, inseguranças e conquistas. Para que aprendam a se colocar no lugar do outro, a resolver conflitos com palavras e a reconhecer que sentir não é sinal de fraqueza, mas de humanidade.

Infelizmente, ainda estamos longe disso. O ambiente escolar, em muitos casos, continua sendo um território de competição, cobrança e silenciamento emocional. Os conteúdos são importantes, é claro — matemática, ciências, história — mas de que adianta saber resolver equações se não conseguimos lidar com nossas próprias emoções ou conviver com quem pensa diferente?

A Dinamarca entendeu algo que ainda relutamos em aceitar: formar cidadãos empáticos é tão urgente quanto formar bons profissionais. Afinal, o futuro não será construído apenas por quem sabe programar um robô, mas por quem sabe estender a mão quando alguém cai. A verdadeira revolução da educação não está apenas na tecnologia ou na inovação dos métodos pedagógicos, mas na coragem de ensinar valores humanos — e a empatia está no topo dessa lista.

É hora de repensar a escola — não apenas como um lugar de aprendizado acadêmico, mas como um espaço de formação emocional e ética. Precisamos de uma educação que acolha, que escute, que ensine, desde a infância, o valor da empatia. Precisamos, com urgência, de uma “Hora da Classe” à nossa maneira.

E quem sabe, um dia, possamos olhar para nossas salas de aula e ver, além de carteiras e lousas, um círculo de crianças sendo ouvidas, respeitadas e preparadas para um mundo que precisa — mais do que nunca — de gente que sente.

3 comentários
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SirleiHá 2 semanas FrancaBela reflexão. Em um mundo que ensina a competir, educar para empatia e um ato de resistência e começa sempre com quem ousa acretitar no poder das pequenas ações.
Jefte segatto de sousaHá 2 semanas Batatsis Excelente! Necessário!
Maria Lúcia de Andrade Figueiredo Há 2 semanas Patrocínio Paulista-SpParabéns, Ana, por essa abordagem que abre caminhos para que nossas escolas proporcionem aos alunos oportunidade de se tornarem mais humanizados.
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Ana Martins
Sobre Ana Martins
Natural de Uberaba, Ana Martins mora há 39 anos em Patrocínio Paulista. Casada, mãe de dois filhos, é formada em Licenciatura em Ciências da Natureza, Matemática e Química, pela Universidade de Franca (Unifran), e em Pedagogia pela Universidade de Uberaba (Uniube), com pós-graduação em Didática também pela Unifran e em Gestão Escolar pela USP. Já atuou como professora de Educação Básica I e II, coordenadora pedagógica, vice-diretora escolar, diretora escolar e supervisora de ensino, estando à frente da Secretaria de Educação de Patrocínio entre 2021 e 2024. Atualmente atua como Consultora em Gestão Pública na área de Educação.
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