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A alma do caipira: tradição, simplicidade e resistência

10/05/2025 05h00 Atualizada há 2 dias
Por: Nainôra Freitas
Tela “Caipira picando fumo”, de Almeida Júnior
Tela “Caipira picando fumo”, de Almeida Júnior

O que é ser patrocinenese? As pessoas nascidas em Patrocínio Paulista são conhecidas como patrocineneses. Mas, o que isto significa?   Esta coluna propõe refletir um pouco a respeito da cultura, da identidade, daquilo que nos move, da cultura como modo de vida. 

 

Muitas vezes assusto com tanto preconceito contra o caipira. É todo um modo de ser, falar, vestir, comer, viver, mas ainda é incompreendido pelas pessoas.

O caipira não era um homem ignorante, ele podia não ser “estudado”, mas possuía um conhecimento profundo sobre o mundo em que vivia, sobre as plantas, os animais, a brevidade da vida.

A comida era simples, tirada da terra, ligada a sazonalidade, somada a pequena criação de animais domésticos: galinhas, porcos, carneiros, alguma caça e, dependendo do lugar, até da pesca. Sua alimentação era aquela que proporcionava “sustância”, ou seja, sustentava a pessoa. Consumiam farinhas (milho e mandioca), vários tipos de feijões, batata-doce, cará, milho e mandioca.

Atualmente nas festas juninas vemos os trajes e não condizem com o que este homem/mulher vestia. A roupa era simples, de algodão, e vestia o melhor traje, a roupa do domingo. A calça podia ser mais curta por ter encolhido o tecido ao lavar, mas não tinha remendos, era a roupa de festa, as saias e vestidos de algodão. Seda era só para as pessoas muito ricas.

Os homens usavam chapéus, o chapéu velho, que podia estar rasgado depois de tantos anos, jamais era usado na festa. O chapéu de festa era perfeito.

As pessoas tinham sardas no rosto porque não havia filtro solar, os dentes eram às vezes cariados por comer muito doce, escuros, mas também não havia dentistas e tratamento dentário como nos dias atuais.

O mundo era diferente, mas o caipira vivia com simplicidade e, ao mesmo tempo, muito ciente da sua identidade, da cumplicidade com a vizinhança, de ser prestativo com as pessoas ao seu redor.

Perdemos essa identidade, e muito mais, querendo copiar a cultura que chegava de fora, primeiro da Europa, depois dos Estados Unidos, para assumir uma cultura que não era nossa. Deixamos nossa pegada no caminho ao tomar este atalho. Hoje ao invés de dançar catira, prefere a dança do caubói.

O caipira perdeu sua identidade para assumir algo que não fazia parte de seu cotidiano, deixou de ser da roça para ser country. Isso é bom? Não tenho resposta, mas sempre penso que minha identidade está aqui nas raízes, na herança da minha ancestralidade e não lá fora, procedente de uma cultura que não me pertence.

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Vinícius de Figueiredo Couto Rosa Há 2 dias Patrocinio Paulista Muito bom abordar esse tema Nainôra. Hoje às pessoas nãose importam com suas raízes, não sabem de onde vieram, não dão valor a família, a religião, não sabem a que custas o mundo em que vivem, foi construído. A figura do caipira, hoje vista através da caricatura de Monteiro Lobato, com seu personagem Jeca Tatu, não exprime a verdade da figura histórica. O caipira que veio dos Bandeirantes, que desbravou terras, que disseminou a cultura, pela culinária, músicas, costumes religiosos.
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Sobre Nainôra Maria Barbosa de Freitas
Patrocinense, apaixonada por história e cultura como modo de vida, com um olhar atento sobre o mundo.
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